Psicólogo convida para uma reflexão a respeito dos efeitos do novo coronavírus no Brasil e no mundo.
A vida do ser humano passou
por obrigatórias transformações devido a pandemia do novo coronavírus,
propiciando um convite para avaliar o que é necessário, essencial e supérfluo. Vários
são os materiais científicos abordando do que o vírus pode causar na vida das
pessoas. Será que estas aprenderam ou cresceram internamente com a chegada da
pandemia? Será que todos passaram pela mesma experiência desse momento
pandêmico? Muitas crianças, jovens, adultos e idosos ficaram preocupados;
outros não. Isso porque o ser humano vivencia sua singularidade, ou seja, cada
pessoa é única e intransferível, interpretando de diferentes formas
determinados acontecimentos. Será que o novo coronavírus trouxe somente pontos
negativos para a vida do ser humano? Há algo que possa ser construtivo, de
aprendizado e de transformação?
Reportagens televisivas
constantes, protocolos, testagens de diversas vacinas, orientações de
diferentes órgãos mundiais, federais, estaduais e municipais quase diários
sobre a pandemia fizeram muitas pessoas desenvolverem sintomas físicos e
psicológicos, repercutindo numa série de mudanças no estilo de vida, como no
trabalho, na escola, no dormir, no consumir e tantas outras esferas. Assim,
notou-se, que além de cuidar do campo físico, o emocional tornou-se peça
principal: debates e sintomas de assuntos variados, como dificuldades com sono,
ansiedade, humor deprimido apareceram com maior frequência, também sugerindo
que o ser humano se conectasse para dentro de si. Aliás, conexão é um fator
importante: as pessoas notaram que os telefones celulares são importantes e que
aproximam umas a outras, mas que as relações com o outro ainda pedem o contexto
da moda antiga: o famoso “olho no olho”. Pessoas idosas adentraram nas redes
sociais, aprendendo a mexer em aplicativos de mensagens, chamadas de vídeo e
demais funções. Já os jovens cansaram de usar telefones celulares por tantos
meses, querendo ver seus amigos e colegas presencialmente.
A
família é um ponto de reflexão crucial: o cuidar, o brincar e o ensinar dos
filhos, independentemente da idade destes – crianças ou jovens precisou ser repensado.
Como ficou sua relação e seu tempo com o seu filho em tempos pandêmicos? Será
que antes você trocava a presença pelo presente? O ensino remoto – que não é
igual ao professor em sala de aula (aliás, os docentes também necessitam ser
mais valorizados, pois o ensinar de forma virtual ou semipresencial é tarefa
árdua) -, precisou ser introduzido e observar que o ‘ideal’ estava distante do
‘possível’. Muitos pais que estudaram até o quarto ano do ensino primário
(nomenclatura antiga) obtiveram dificuldades em poder ajudar sua prole. Um
convite para estes pais voltarem a aprender.
Na alimentação, durante o
período de maior restrição social, as pessoas foram convidadas a verificar quais
eram os alimentos que costumeiramente entram em suas residências. Foram
convidadas ainda, analisar o que era consumido nas principais refeições, além
de aprender a comer corretamente para ter uma melhor qualidade de vida,
garantindo um possível fortalecimento do sistema imunológico. A melhor higienização
dos alimentos também necessitou ser melhor realizada, garantindo maior
segurança para o lar. Ponto positivo
para as pessoas que dividiam o pouco que tinham com aqueles que não tinham
absolutamente nada. Pergunte-se: o que você tem em casa, é possível doar para o
outro? Há necessidade de ter tudo que está no seu guarda-roupa ou despensa?
Alguns casais –
independentemente da formação destes -, puderam repensar sua vida a dois, dando
novas condutas para a relação: aprender a respeitar o outro, convidá-lo a fazer
novos programas a dois dentro de sua própria casa (as famosas lives das redes sociais), bem como
avaliar diversos pontos positivos e negativos da questão relacional. Na parte
da sexualidade, foi possível inovar no sexo, buscando novas fontes de estímulo
e fantasias, pois além disso o ato sexual pode ser relaxante para a pessoa. Para
os solteiros, foi necessário reinventar suas formas de flertar e paquerar, utilizando
ainda mais as redes sociais.
Do caos ocorrido na saúde
pública brasileira, teremos a valorização de diversas categorias profissionais,
em especial na área de saúde? Cuidarão dos profissionais de linha de frente, em
especial nas questões emocionais? Será que haverá políticas (claro que
efetivas) para remuneração financeira, em especial para os técnicos de
enfermagem, enfermeiros, entre tantos outros profissionais de linha de frente,
incluindo profissionais na área de limpeza?
É evidente que ocorrem
experiências negativas e dolorosas na pandemia da covid-19, como a perda de
pessoas e o enlutamento de diversas famílias. Nesse momento o ser humano pode
conceder seu colo, o seu afeto e sua escuta: isso traduz o que pode ter de
melhor dentro de si, como a empatia, compreendida como a capacidade de se
colocar no lugar do outro.
Diversos podem ser os exemplos
reflexivos que a pandemia nos concede. Pode-se dizer, portanto, que o que era
supérfluo precisou ser deixado de lado, aprender a aprender, conviver com o
pouco, com o mínimo. Em suma: se cada ser humano é único, o que VOCÊ aprendeu
com a pandemia da covid-19?